segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Tolstoi para todos…

Guerra & Paz (War And Peace / Guerre et paix)

Guerra e PazAno: 2007

Direção: Robert Dornhelm

Roteiro: Lorenzo Favella, Enrico Medioli

Duração: 480 min.

Gênero: Drama, romance, guerra.

Categoria: Mini-série (4 episódios)

Elenco: Alexander Beyer (Pierre Bezukhov); Clémence Poésy (Natasha Rostova); Dmitri Isayev (Nikolaj Rostov); Andrea Giordana (Pai – Sr. Rostov); Hannelore Elsner (Mãe – Sra. Rostova); Teresa Gallagher (Sonja); Alessio Boni (Príncipe Andrej Bolkonsky); Malcolm McDowell (Pai - Príncipe Bolkonsky); Valentina Cervi (Princesa Marja Bolkonsky); Benjamin Sadler (Dolokhov); Toni Bertorelli (Vasilii Kuragin); Violante Placido (Helene Kuragin); Ken Duken (Anatole Kuragin); Hary Prinz (Denisov); Brenda Blethyn (Márja Dmitrijewna Achrosímowa).

Encantada, fascinada, deslumbrada, apaixonada, sei lá, um desbunde só!!! E isso é apenas o início da rasgação de seda que posso fazer sobre esta maravilhosa mini-série. Sempre sou tendenciosamente preconceituosa com adaptações das grandes obras literárias – tudo bem que nada supera o livro – mas, esta é uma das mais belas e intensas histórias de Tolstoi, adaptada de uma forma venerável e inesquecível. Grandiosa, para tentar ser mais específica. Para quem nunca leu Tolstoi, com certeza, após assistir a esta mini-série vai ter a curiosidade e a vontade de abrir o livro e devorá-lo. Mas vamos aos detalhes…

A história é famosa e se passa no período de 1805 a 1820, durante a invasão de Napoleão a Rússia. Envolve três famílias, os Rostov, os Bezukhov e os Bolkonsky. Pierre Bezukhov é filho bastardo de um conde e acaba sendo reconhecido por este antes de sua morte. Tem como grande amiga e confidente a jovem Natasha Rostova. Esta por sua vez se apaixona pelo príncipe casado Andrej Bolkonsky, que também é muito amigo de Pierre. A guerra vem e muda radicalmente a vida das três famílias e dos amigos. Sofrimento, coragem, intrigas, paixões avassaladoras, e amizade. O que fica muito claro durante toda a série é a cativante amizade entre Natasha e Pierre. Aconteça o que acontecer, ambos são fiéis para com um e o outro, e apenas amigos. Não quero contar a história aqui, pois perde toda a graça para quem vai assistir, mas não me lembrava mais dos detalhes do livro e de quão bela é esta amizade.

War & Peace - Andrej BolkonskyOutra coisa que me fascinou na série foi a belíssima trilha sonora de Jan A.P. Kaczmarek, embalada por valsas e grandes clássicos eruditos.

A riqueza dos cenários e de todo o figurino, nem se fala, impecável. E o elenco... bem, isso é um caso a parte.

O mais famoso aqui nesta produção certamente é Malcolm McDowell – o eterno Laranja Mecânica – mas com um elenco quase todo formado por atores desconhecidos do grande público (muitos franceses, italianos, alemães, poloneses, russos e ingleses), o que poderia ser uma catástrofe, foi fascinante. Ao invés de ficarmos babando com um monte de gente famosa, vemos atores lindos e excelentes em seus papéis, e que nos dão a certeza da viagem no tempo. O belíssimo príncipe Andrej Bolkonsky é italiano; a encantadora e delicada Natasha é francesa (talvez vocês lembrem dela em Harry Potter no papel da Fleur Delacour); o sensível e gentil Pierre é alemão; sem falar que o ator que faz o Nikolaj Rostov é russo... E por aí vai. Nesta babel européia, aprendemos novos nomes, conhecemos novos atores do circuito europeu e temos a certeza que nem tudo que é fantástico vem de Hollywood.

Somente uma série deste nível para me dar uma boa sacudida e fazer com que eu voltasse a escrever. Foram às 8 horas mais bem gastas na frente da TV. Não cansei, não enjoei e nem quis deixar para ver o restante depois. Vi toda, completinha, de uma vez só! Foi boa parte do domingo, mas valeu cada segundinho. War & Peace 2007

Teve uma cena, em específico, que eu me apaixonei, quando Natasha dança uma valsa com o príncipe Andrej – juro, a sensação é como se você é quem estava bailando lá, uma leveza, você se sente flutuando. Encantador…

Mais que recomendo esta mini-série. Se você gosta de história, de um bom romance, de boa música e de um dos cenários mais lindos do mundo que é a Rússia czarista, vale conferir.

“O sofrimento é irrelevante se for em nome da glória” [Príncipe Andrej Bolkonsky]

Excelente

sábado, 2 de julho de 2011

Cerejeiras em Flor

Cerejeiras em Flor (Kirschblüten / Hanami / Cherry Blossoms)

cartaz-hanami-cerejeiras-em-florAno: 2008

Direção: Doris Dorrie

Duração: 130 min.

Gênero: Drama.

Elenco: Elmar Wepper (Rudi Angermeier); Hannelore Elsner (Trudi Angermeier); Aya Irizuki (Yu); Maximilian Brückner (Karl Angermeier); Nadja Uhl (Franzi); Birgit Minichmayr (Karolin Angermeier); Felix Eitner (Klaus Angermeier); Floriane Daniel (Emma Angermeier); Celine Tanneberger (Celine Angermeier); Robert Döhlert (Robert Angermeier).

É triste pensar, mas a verdade é dolorosa para quem chega a velhice. As pessoas se relacionam, tem filhos, criam estes filhos com todo amor que podem do seu jeito dar, e quando ficam velhas são abandonadas e esquecidas. As vezes é preciso um estranho para dar a pequena atenção ou um simples carinho, seja na maneira de tratar ou falar, para que a vida fique plena e assim poder seguir em paz.

Esta é a base desta história triste e comovente, até um pouco cansativa, mas de uma beleza singela e tocante. Nunca é muito fácil falar sobre relacionamentos familiares com tanta clareza e dureza. E isto você vê nesta película. 01snapshot2008102815543qb3

Trudi é casada com Rudi Angermeier e eles têm três filhos Karl, Karolin e Klaus. Karl é solteiro e mora no Japão; Karolin é lésbica e mora com a namorada em Berlim e Klaus é casado e pai de um casal e também mora em Berlim. Um dia Trudi descobre que seu marido está com uma doença terminal e que lhe resta pouco tempo de vida. Então ela decide que é hora de eles saírem da rotina, aventurar-se e irem visitar os filhos e os netos em Berlim. Rudi é um homem calado, sério e conservador. Ele não sabe de sua doença e não gosta de sair da sua rotina, da pacata vida na pequena aldeia do interior da Baviera. Ao irem para Berlim, Rudi e Trudi se deparam com filhos distantes emocionalmente, com situações embaraçosas e desconfortantes e, mais uma vez, Trudi resolve mudar o roteiro da viagem e seguem para uma praia no Mar Báltico. Como o destino muitas vezes é travesso, Trudi falece tranquilamente durante o sono e Rudi se vê no mundo sozinho e distante de todos, e sem saber que seus dias também estão contados.

Nenhum dos filhos que ficar com o pai. Eles “internamente” o culpam pela morte e pela infelicidade da mãe.

Um aparte: “Sempre quis ir ao Japão com ele. Ver o Monte Fuji, ao menos uma vez. As cerejeiras em flor, com ele. Mesmo porque, não consigo me imaginar, vendo qualquer coisa sem o meu marido. Seria como se realmente não estivesse vendo. Como eu posso continuar a viver sem ele?”. Assim começa o filme e assim era Trudi. Uma mulher cheia de emoções e sentimentos, vivendo para o marido, uma vida simples e rotineira. Ela era contida do seu espírito aventureiro, por isso amava a dança japonesa butô(*) e tudo que se referia ao Japão.

cerejeiras-em-flor-1Ao perder Trudi fisicamente, Rudi se vê mais só do que nunca e decide, corajosamente, ir em busca do maior sonho de seu amor, para assim achar sua paz interior. Ele parte para o Japão, para encontrar o que Trudi sempre buscou. Karl recebe o pai a contragosto, mas meio que o abandona em seu minúsculo apartamento em Tóquio. Rudi, em sua solidão passa a andar e a passear por Tóquio, uma cidade caótica, onde não fala uma palavra sequer em japonês, se perde, dorme na rua, briga com o filho, e finalmente acha a redenção junto a uma jovem dançarina de butô. Com Yu, ele aprende pequenas coisas, como se relacionar, falar sobre seu amor por Trudi e expressá-lo não só através das roupas, mas também do butô (dança da sombra – como Yu explica no filme). Com isso Rudi passa a ver o mundo de outra forma, com os olhos, os sentimentos e o espírito de Trudi.butô

Para mim, um dos mais tocantes filmes que vi nos últimos tempos. Relacionamentos familiares nunca são fáceis. E somente quem sente e vive isso intensamente sabe que amar também é abdicar, que amar é uma via de mão dupla, mesmo que pareça ser de mão única. Muitas vezes deixamos de fazer coisas que gostávamos pelo mais puro prazer de estar junto de quem amamos. Não é difícil. É só saber dizer sim ou não no momento certo, sem nunca deixar que isso nos fira. Por que se o amor passar a ser doloroso, já não vale a pena.

Os filhos de Trudi sempre acusaram o pai de haver podado a mãe, mas eles nunca entenderam que a escolha foi dela, e ela era feliz com isso. Cada um sabe onde aperta o seu sapato. A vida é assim. Vale conferir. Eu amei.Excelente

(*) ““Bu” significa dança, e “toh”, passo. Butô combina dança e teatro, em espetáculos centrados em temas como o nascimento, a sexualidade, o inconsciente, a morte, o grotesco. O corpo é esvaziado de referências culturais e se entrega a todo tipo de metamorfose”. (trecho do blog do Valdeci – vale conferir  - http://maisde140caracteres.wordpress.com/2010/08/12/hanami-cerejeiras-em-flor/).

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Homenagem aos mortos…

A Partida (Okuribito / Departures)

A PARTIDAAno: 2009

Direção: Yojiro Takita

Duração: 130 min.

Gênero: Drama.

Elenco: Masahiro Motoki (Daigo Kobayashi); Ryoko Hirosue (Mika Kobayashi); Kazuko Yoshiyuki (Tsuyako Yamashita); Tsutomu Yamazaki (Shōei Sasaki); Kimiko Yo (Yuriko Uemura); Takashi Sasano (Shōkichi Hirata); Tetta Sugimoto (Yamashita); Toru Minegishi (Toshiki Kobayashi); Tarō Ishida (Mr. Sonezaki).

“A Partida” mexeu com minha alma e me fez, conseqüentemente, parar para pensar na hora da partida. O respeito por quem parte, o amor e a delicadeza de todo o ritual, isso tudo me deixou com uma inveja danada, pois nós ocidentais não temos essas tradições com tantos detalhes e respeito.

A fotografia é maravilhosa. Pause o filme em qualquer cena e veja lá uma linda imagem. A música nem se fala... Tudo casa com a perfeição. É como uma tela de pintura mostrando toda a sua grandiosidade. Como um bom poema sendo representado na sua frente.

Tirando os clássicos de Akiro Kurosawa, nunca fui muito fã do cinema japonês, mas neste caso, fui conquistada e seduzida por esta obra tão cativante e sedutora.2009_departures_001

A história é bem simples... Daigo Kobayashi é um jovem casado que toca violoncelo em uma orquestra sinfônica em Tóquio. Mas, ela é dissolvida e ele fica sem trabalho. Por isso decide voltar a morar na sua cidade natal. Logo arruma um emprego como “noukan”, um tipo de personal style de defuntos. É uma profissão que não é bem vista por sua mulher e nem por seus conhecidos, até o momento em que precisam usar de seus serviços.

Na verdade, as profissões de “dono de funerária”, “embalsamador”, “coveiros” e afins nunca são bem vistas. As sociedades tendem a discriminar profissões ligadas à morte, seja desde o legista ao coveiro. Isso é natural, pois a morte teoricamente assusta, enfeia e junto a ela normalmente vem sofrimento. No caso deste filme vemos uma face diferente. Onde a morte é uma partida para uma viagem (sem volta), mas se vamos partir, partiremos com dignidade, com beleza e um certo requinte. A maneira de tratar o cadáver com tanto respeito é simplesmente encantadora. Tem todo um ritual, uma delicadeza e uma profunda deferência para com o morto. As pessoas só passam a dar valor a este trabalho e a reconhecerem o quanto ele é importante e imprescindível quando se veem necessitando de seus serviços. [SPOILER] Tem uma cena que marcou muito esta visão: eles chegam atrasados na casa de um cliente, e o marido da morta está indócil, grosseiro. Após todo o ritual, você nota que não há mais lágrimas nos olhos dos familiares e sim carinho aliado ao respeito. Um sentimento de honra fica claro nessa hora.a-partida-3 E a senhora que estava morta fica não com a aparência de um cadáver, mas de quem está serenamente dormindo no momento de sua partida. Aí sim, o marido vem e agradece os feitos por sua família e sua mulher. E exatamente neste instante fica claro o valor desta profissão.

Tem uma série de fatores envolvidos nos detalhes do filme... A lembrança dolorosa do pai que foi embora, o estudo contínuo do violoncelo, a “carta de pedra”, a relação marido X mulher X trabalho, o orgulho, o perdão...

Um filme lindo, perfeito, como há muito eu não via. Emocionante. Vale mais do que conferir. Vale ter, ver, assistir e rever sempre que puder para não esquecer o quanto coisas que parecem tão pequenas e insignificantes são importantes em nossa vida.

Mais detalhes sobre este filme no blog http://1filme.net/a-partida-2008.Excelente

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Uma das maiores histórias de amor do mundo…

O Pedido (Guzaarish / The Request)

cinema-GuzaarishAno: 2010

Direção: Sanjay Leela Bhansali

Duração: 135 min.

Gênero: Drama.

Elenco: Hrithik Roshan (Ethan Mascarenhas); Aishwarya Rai (Sofia D'Souza); Patel Shernaz (Devyani Dutta); Ali Nafisa (Isabel Mascarenhas/mãe de Ethan); Aditya Kapoor Roy (Omar Siddique); Suhel Seth (Dr. Nayak).

Vou logo dizendo, sou um pouco preconceituosa com filmes produzidos na Índia, pois penso logo nas dancinhas. Graças aos bons gurus, este não é o caso desse belíssimo filme de amor. Um drama sofrido, daqueles de encher baldes de lágrimas, mas de um amor tão forte que não dá para não se envolver.

Guzaarish” nos conta a história do mágico Ethan Mascarenhas, que sofreu um “acidente” e ficou tetraplégico e, após 14 anos preso a uma cama, resolve que está na hora de dar um basta em sua vida. Ele procura uma forma legal de conseguir uma autorização para fazer sua eutanásia. Como em vários países do mundo, na Índia também é proibida a eutanásia. Entre a batalha judicial que envolve este processo, há toda uma história de amor por traz deste drama. Ethan não está só, pois tem sua melhor amiga e advogada Devyani; tem Omar Siddique, um jovem aprendiz de mágico, g4discípulo de Ethan; e tem Sofia, sua fiel e dedicada enfermeira há 12 anos; entre outros amigos e personagens que se desenvolvem no decorrer da história.

Onde está o encantamento desse drama? Na relação entre Ethan e Sofia. Ele precisando morrer, pois não aguenta mais sua maneira de viver, apesar de que, durante estes 14 anos como tetraplégico, ele ajudou com apoio e incentivos outras pessoas que sofrem como ele. E ela, com toda sua compaixão e um amor tão profundo por Ethan, sofrendo por compreender que é necessário aceitar a dor e deixá-lo morrer.

Guzaarish” nos ensina sobre um amor incondicional e a liberdade de escolher o direito sobre seu próprio corpo. Uma das principais questões que você fica se perguntando durante todo o filme é: eles estão sendo maus amigos por não ajudá-lo a terminar com a sua vida ou, o amor é tão grande que você faria qualquer coisa para ajudá-lo a Guzaarish_TheUthWorld.blogspot.com (1)acabar com o sofrimento? Não é uma pergunta fácil de responder. Deixar o ser amado partir sem lutar nunca é, e nunca será fácil. Até onde pode chegar o nosso amor por alguém? Você é capaz?

Outra coisa que eu senti e pensei ao ver este filme: como Alberto Caeiro dizia “Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. O que for, quando for, é que será o que é”. O momento de nossa morte deveria ser uma tremenda festa, não choro e luto. Deveria ser uma reunião de amigos e familiares com boas lembranças, muito riso e alegria. Morrer é nascer em uma outra vida.

Uma história profunda, comovente, irresistível. A química perfeita entre  os personagens é visível e envolvente. Fiquei encantada com os belos olhos verdes de Hrithik Roshan e com sua personalidade forte e temperamental; e não há como não ser seduzido pela belíssima miss/modelo/atriz indiana Aishwarya Ray - pense numa mulher bonita (queria eu ser assim). Eu mais que recomendo e preparem o balde para a cena final.Interessante

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A Dama Fantasma

Café da Manhã em Plutão (Breakfast on Pluto)

breakfast_on_plutoAno: 2005

Direção: Neil Jordan

Duração: 135 min.

Gênero: Drama.

Elenco: Cillian Murphy (Patrick/Patrícia 'Kitten' Braden); Conor McEvoy (Jovem Patrick Braden); Liam Neeson (Padre Liam); Ruth Negga (Charlie); Laurence Kinlan (Irwin); Stephen Rea (Bertie); Brendan Gleeson (John-Joe); Gavin Friday (Billy Hatchet); Eva Birthistle (Eily Bergin/Eily Lookalike); Ruth McCabe (Mãe Braden); Steven Waddington (Insp. Routledge).

Alguns filmes a gente assiste gosta, mas esquece. Outros são encantadores, e nos marcam e mexem com a gente de uma maneira impressionante, sem motivo algum passam a fazer parte daqueles filmes “perfeitos”. Este é o caso de “Café da Manhã em Plutão”. Me encantei com a triste e corajosa trajetória da vida de Patrick ‘Kitten’ Braden. Tudo poderia ser bem normal para o universo cinematográfico: “Um bebê é deixado na porta de uma igreja; o padre entrega a criança para adoção; a criança – um menino – gosta de se vestir de menina; a mãe adotiva despreza esse menino; ele descobre que é adotado e sai em busca de sua mãe verdadeira”. Até aí seria apenas mais uma história triste, mas não. Neil Jordan com sua visão incomum consegue, mais uma vez, nos seduzir com um personagem tão comovente e apaixonante quanto Patrick “Kitten” Braden. breakfast-on-pluto-2005-05-g

O próprio Patrick nos conta sua história em flashback, e vai abrindo este conto, que mais parece uma fábula (note os passarinhos falantes da abertura) sobre as vicissitudes de sua vida. Neste ínterim vemos que não somente nós, mas todos os personagens que circulam em torno de Patrick acabam envolvidos por sua docilidade contagiante. Um bom exemplo é o policial que depois de torturá-lo se rende e passa a ajudá-lo. O filme é cheio dessas coisas. Pessoas que entram na vida dele e se encantam. A docilidade e ingenuidade de Patrick são tão grandes que chegam a confundir com loucura. Mas ele tem uma missão, encontrar sua verdadeira mãe - “A Dama Fantasma” – e em momento algum ele perde o foco.

No contexto histórico nos deparamos com as tragédias vividas pelo povo irlandês – o filme se passa na Irlanda e na Inglaterra – ocasionadas pelos atentados do grupo terrorista IRA (Exército Republicano Irlandês), no período dos anos 60 e 70.

Café da Manhã em Plutão é baseado na obra do romancista irlandês Patrick McCabe.

18469661Como é um filme de Neil Jordan não é de se estranhar o Stephen Rea no elenco, o que é previsível. Liam Neeson está sedutor como o padre Liam. Mas o show é de Cillian Murphy que nos dá uma aula de como construir um personagem sem cair no burlesco. Seus trejeitos são tão delicados e femininos que em alguns momentos chegamos realmente a acreditar que Patrick na verdade é Patrícia.

Um filme surpreendente, uma aula sobre sexualidade, amizade, aceitação, coragem e acima de tudo persistência. Embalado por uma trilha sonora fantástica e atores magníficos! Me encantei com a "Kitten" e sua história. Cillian Murphy mais uma vez dando um show de atuação. Salve a "Dama Fantasma"!!! Vale conferir.Excelente

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Apenas uma árvore…

Flipped – O Primeiro Amor (Flipped)

1290770951831flipped2010Ano: 2010

Direção: Rob Reiner

Duração: 90 min.

Gênero: Drama; Romance.

Elenco: Morgan Lily (Jovem Juli Baker); Madeline Carroll (Juli Baker); Penelope Ann Miller (Trina Baker - mãe); Aidan Quinn (Richard Baker - pai); Ryan Ketzner (Jovem Bryce Loski); Callan McAuliffe (Bryce Loski); Rebecca De Mornay (Patsy Loski - mãe); Anthony Edwards (Steven Loski - pai); John Mahoney (Chet Duncan – avó do Bryce).

Este é um filme encantador, com uma história simples, pode-se até dizer bobinha, mas apaixonante. Juli conhece Bryce aos 7 anos de idade e se encanta por “olhos deslumbrantes” desde o primeiro momento em que o viu, enquanto Bryce cria aversão a ela. Essa é uma história de amor, como muitas outras, em que, menina ama menino, e menino foge dela (quem não viveu isso atire a primeira pedra)! Com uma pequena diferença, desde o início do filme, vemos os dois lados da moeda. O que Bryce pensa sobre uma determinada situação e o que Juli pensa sobre a mesma coisa. Pontos de vista diferentes, e paralelos, sobre um mesmo assunto. É fascinante.Flipped

Tanto Callan Mc Auliffe, quanto Ryan Ketzner fazem dos seus “Bryce” (o garoto e o adolescente) fútil, covarde e bobão, bem “Maria vai com as outras”, como boa parte dos meninos da idade deles. Mas o poder do filme se encontra na solidez do personagem da Juli, uma belezinha fulminante, corajosa e intrépida, interpretada com muita personalidade pelas incríveis Morgan Lily e Madeline Carrol.

Em particular, Morgan Lily é uma figuraça. Essa fedelhinha dá um show com aquela cara de cobiça quando bate os olhos a primeira vez no coitado do Bryce. Ela cerca ele por todos os lados, chega a ser cômico o incômodo que ela causa no menino.

Mas é Madeline Carrol que arrasa o nosso pobre coração. A cena da árvore é de encher os olhos de lágrimas... A força e a segurança que ela passa ao seu personagem nos dão a certeza de que, num futuro bem próximo, Hollywood vai derreter aos seus pés.

Temos ainda o belo Aidan Quinn como o pai da Juli, um homem sensível, que leva uma vida regrada para poder cuidar do irmão deficiente. Enquanto Anthony Edwards (Dr. Mark Greene – E.R.) faz o babacão do pai do Bryce, cheio de preconceitos e atitudes repugnantes. Ah! Sem poder esquecer do avô do Bryce, interpretado pelo sensacional John Mahoney.

FlippedUm filme tocante, com duas famílias distintas, pois uma é “pobre” mas unidos e felizes e a outra, apesar de ter tudo, não sabe bem o que é felicidade e união. Cheio de lições de moral, de amor não correspondido, de amizades e relacionamentos, este é um filme que nos faz bem assistir. Quando o filme termina, você fica com a nítida impressão de que algo prazeroso acabou de passar por sua vida e se vê sorrindo como bobo.

Todos nós um dia tivemos nosso primeiro amor. E tivemos aquele amor que não foi correspondido, e nos vimos buscando ele até que enchemos o saco e largamos de mão esse sentimento, então, o mala – que era o objeto de amor – resolve nos dar bola quando a gente não quer mais, e assim começa o círculo vicioso do amor e do desamor.. Cest la vie.

“… o todo ser é maior do que a somas das suas partes…”

Encantador, suave, um refresco para a alma. Vale conferir. Me apaixonei.Excelente

Obs.: Uma falha feia na capa do DVD, ele nunca sentou ao lado dela na árvore…

domingo, 24 de abril de 2011

North & South (Elizabeth Gaskell)

Norte e Sul (North & South)

norte e sul 00 Ano: 2011

Autor: Elizabeth Gaskell

Editora: Landmark

Brochura – 23 x 16 cm

1ª Edição – 544 pág.

Edição Bilíngüe: Inglês/Português

"Publicado em forma de livro pela primeira vez em 1855, sendo que já havia sido publicado inicialmente na revista literária 'Household Words', entre setembro de 1854 e janeiro de 1855 em 22 partes semanais. A trama gira em torno do contraste existente entre o modo de vida da Inglaterra industrializada do norte e da Inglaterra rural e inocente do sul, em uma época marcada pela revolução industrial do século 19."

Já havia descrito sobre a trama no post http://pensaoutracoisa.blogspot.com/2010/08/look-back-look-back-at-me.html e, sem sombra de dúvidas, essa é a primeira vez que uma filmagem supera a trama original do livro.

Por quê? Porque o livro é fabuloso no ponto de vista histórico. Para quem está estudando a Revolução Industrial e todo o impacto que ela teve no século 19, é perfeito. Mas para quem gosta de um romance açucarado e bem meloso, ficou a dever. Não que o livro não tenha isso, tem. Mas muito pouco. Você sente a intensidade dos sentimentos de Mr. Thornton? Sente, claro! Mas quanto a Margaret? Faltou e faltou muito.

Estava eu na anti-penúltima página – da parte em português (minha edição é bilíngüe) - quando virei esta e dei de cara com a palavra FIM na página seguinte, eu fiquei com cara de bunda! Como assim? Já está acabando? NÃO POOOOODE!!! Falta muito o quê se explicar. Ninguém é tão resistente e cede de uma hora para outra. Mas acabou. C’est fini! Não pode! Eu fiquei perplexa! Juro! A minha sensação era de que fui amputada do final espetacular da história e que a autora resolveu me sacanear (egoísmo máximo o meu). Mas agora sendo séria, tive a forte impressão de que Elizabeth Gaskell estava de saco cheio de escrever e resolveu acabar de uma hora para outra a história. Ponto. Simplesmente isso. Acabou! Aaaaaaaiii! Que absurdo! Frustrante! Que raiva!!!

Deixando a histeria de lado (fiquei muito fula!), o livro é muito bom, fofo em algumas partes, frustrante em outras (nem tudo é perfeito), altamente instrutivo, mas a série da BBC é muito melhor, afinal, onde está Richard Armitage tudo fica perfeito.

Uma dica: quem não viu a série, leia o livro primeiro, para somente depois se deleitar e limpar os olhos com aquele colírio chamado Mr. Thornton (Richard Armitage).

E voltamos a velha dúvida cruel: Mr. Thornton ou Mr. Darcy? Quem ganha esse duelo de homens fofíssimos!!! Acho que vou propor uma votação. Bem, pensarei nisso mais tarde... Interessante

sábado, 23 de abril de 2011

No que você acredita?

O Ritual (The Rite)

O-Ritual-poster Ano: 2011

Direção: Mikael Håfström

Duração: 114 min.

Gênero: Drama; Terror; Suspense.

Elenco: Anthony Hopkins (Padre Lucas Trevant); Colin O'Donoghue (Michael Kovak); Alice Braga (Angeline); Ciarán Hinds (Padre Xavier); Toby Jones (Padre Matthew); Rutger Hauer (Istvan Kovak); Marta Gastini (Rosaria).

Muito já se falou sobre esse tema e a melhor produção já feita em todos os tempos continua sendo o clássico “O Exorcista”, de 1973. Mas “O Ritual” tem seus méritos.

Este não é um filme de terror, cheio de sustos, vômitos e sangue. [Se você gosta disso, passe longe. Essa não é sua praia.] É um excelente suspense, tenso e dramático, sobre a fé, seus questionamentos e sua religiosidade.

Kovak não acredita no demônio e tem certeza que tudo o que ele vê são apenas problemas psicológicos, e que é preciso saber diferenciar possessão de doença mental. Mas todas as suas teorias e sua falta de fé são testadas a partir do momento em que ele se envolve nos rituais de exorcismo do padre Lucas (Anthony Hopkins). E este, por sua vez, toma a cena do filme. Anthony Hopkins, como há muito não se via, dá um encanto maligno ao seu personagem. Podemos ver de volta o velho olhar psicótico do Dr. Hannibal Lecter, e todo o cinismo que só ele (e Jack Nicholson) tem. Creio que ele estava certo ao dizer que foi um dos melhores filmes que ele fez nos últimos tempos.

Contamos ainda com a sutil participação de Ciarán Hinds (Captain Frederick Wentworth de Persuasão – Jane Austen) e Rutger Hauer (o eterno replicante louraço Roy Batt de Blade Runner). E temos ainda a Alice Braga, que na verdade seu papel seria o de Matt Baglio(*), a jornalista que busca uma história real sobre exorcismo, nada demais. O lado mais fraco do filme se deve ao seu protagonista Colin O’Donoghue, pois seu Michael Kovak é tão descrente e insosso que você fica na certeza que não crê em nada do que ele faz.

Um detalhe: a cena em que Padre Lucas atende ao celular em meio a um exorcismo, é demais, exagerada, mas engraçada. Ajuda a quebrar um pouco a tensão do filme. 

Apesar de ter um tema já muito batido, "O Ritual" nos envolve e seduz de uma maneira simples e ao mesmo tempo, intensa. Não há grandes sustos ou cenas terríveis, e isso dá o tom de veracidade da história. Eu recomendo para quem gosta de um bom drama com uma pitada de suspense. Vale conferir.Interessante

(*) O Ritual foi inspirado no livro The Making of a Modern Exorcist de Matt Baglio.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Lutar, procurar, encontrar e não se render...

Uma Semana (One Week)

One Week1 Ano: 2008

Direção: Michael McGowan

Duração: 94 min.

Gênero: Drama;

Elenco: Joshua Jackson (Ben Tyler); Campbell Scott (Narrador); Liane Balaban (Samantha Pierce).

"O que fariam se soubessem que tinham apenas um dia, ou uma semana, ou um mês de vida? A que barco salva-vidas se agarrariam? Que segredo contariam? Que banda iriam ver? A que pessoa declarariam seu amor? Que desejo realizariam? A que local exótico viajariam para tomar um café? Que livro escreveriam?"

Ben Tyler é um professor frustrado que está noivo de Samantha. Ele é diagnosticado com um câncer terminal e fica ciente que sua sentença de morte já está escrita. Num impulso, compra uma moto e decide embarcar numa viagem para atravessar todo o Canadá de leste a oeste. Esta é a viagem de sua vida.

Um conto comovente de um homem em busca de sua identidade, de uma vida, de uma história, de se encontrar e saber, com isso, o que fazer do tempo que lhe resta.

Narrado ao melhor estilo Amélie Poulain, One Week é uma ode ao Canadá. E traz como pano de fundo a sensacional paisagem canadense, apoiada por uma fantástica trilha sonora (Melissa McClelland, Sam Roberts, Wintersleep, Stars, Emm Gryner e outros grandes da música canadense).

O filme é modesto em estrutura e suave em seu humor, mas o que ele capta na lente da câmera é precioso: a chuva caindo sobre o musgo verde-azulado das florestas de Ontário, a neblina poeirenta de um pôr do sol na pradaria, está tudo lá, é tudo lindo. O Canadá é muito lindo! Me encantei!

A paisagem quase ofusca o desempenho de Joshua Jackson. É um papel que exige que ele não aja, mas que reaja e ainda tire alguns risos de tudo isso. Ele não diz muita coisa e na maioria das vezes ele simplesmente olha, com as mãos nos bolsos, os maiores “monumentos de coisas estranhas do mundo” – creio que canadense gosta disso. Tipo: o maior camelo do mundo, o maior clip do mundo, a maior cadeira do mundo, e por aí vai... Enquanto um narrador onisciente explica tudo o que ele está pensando. Seu “Ben” poderia facilmente parecer enfadonho, mas ele só parece real, muito real. E no caminho em busca de sua história, ele vai tecendo uma nova e surpreendente teia de amigos.

Um detalhe: a cena da quadra de hockey, em que ele beija o troféu é perfeita, pois mostra claramente a grande paixão de um povo por este esporte.

Um filme tocante e absolutamente imprescindível para quem crê que a vida tem muito mais a oferecer.

Eu, que não gosto de motos, fiquei com aquela vontade se comprar uma harley e sair por aí (até parece!!!)...

Não tenho muito o que falar, somente que vale conferir cada um dos seus 94 minutos de puro deslumbre. Bem vindo ao Canadá! Excelente

terça-feira, 12 de abril de 2011

O arco-íris é a minha casa

A Shine Of Rainbows

poster-sor-lg Ano: 2009

Direção: Vic Sarin

Duração: 101 min.

Gênero: Drama;

Elenco: Connie Nielsen (Maire); Aidan Quinn (Alec); John Bell (Tomás); Jack Gleeson (Seamus); Tara Alice Scully (Nancy); Niamh Shaw (Katie).

Esta é a história de uma mãe amorosa, um pai relutante e de um jovem órfão.

Maire O'Donnell tem um sorriso capaz de iluminar o canto mais escuro do mundo. Alegre, acolhedora e solidária, ela adota um jovem órfão gago e tímido chamado Tomás. E o leva para sua casa na remota Corrie Island, uma pequena ilha ao largo da costa da Irlanda. shineofrainbows2

Maire é casada com Alec, um homem duro e sem cor que se decepciona ao conhecer o retraído Tomás. Mas Maire faz com que ambos acabem se envolvendo e fazendo parte da vida um do outro. 

O que tem de tão especial neste filme? A cor. O filme começa dentro de um orfanato, com seu tom cinza-azulado e triste. Logo que Maire surge, junto a ela vem uma infinidade de cores vibrantes, é como se a alegria surgisse ao vivo na frente de Tomás. Você sente esta vibração na cena do primeiro encontro deles. Perfeita.

A cor é uma parte muito importante do filme, como se ela movesse tudo que fosse de positivo. Maire ensina que temos uma escolha na forma como olhamos para a vida. Nós podemos ver a beleza ou o que nos assusta. Ela mostra a Tomás que você pode mudar ou não, você está com medo de alguma coisa apenas pelo modo como você olha para ela. É tudo uma questão de perspectiva. Para ela, a cor é igual a amor. Ela traz a cor em tudo o que ela faz. E há tanta coisa para amar sobre este filme. O amor de Marie e Alec! O amor de Marie e Tomás. A maneira que Marie vê o mundo e como ela divide-se com os outros. A magia do amor de uma mãe, mesmo quando não é de sangue. A maravilha da “cor” e como ela contribui para a nossa vida da forma mais simples, e a fantasia do arco-íris e a beleza que detém, tanto visualmente quanto espiritualmente. Essa é a espinha dorsal de toda a história. irishfilmfest4

“A Shine of Rainbows” é baseado na obra de Lillian Beckwith. Filmado na península Inishowen, no norte da Irlanda, possui uma fotografia maravilhosa e paisagens deslumbrantes.

A dinamarquesa Connie Nielsen, que fez “O Gladiador", está perfeita como Maire, ela irradia calor e amor. O ator irlandês Aidan Quinn interpreta Alec, com seu olhar penetrante e firme, como se cortasse a nossa alma. Um homem duro que, quando junto a Maire, ele passa todo amor que sente por ela. E o lindo e cativante jovem ator escocês John Bell, com seu Tomás frágil e vulnerável, que dá vontade de colocar no colo e consolá-lo. Ele nos seduz a cada momento de sua jornada. Não tem como não se apaixonar por Tomás. 

Um filme tocante, de uma beleza extraordinária. Nele vemos a diferença que uma pessoa pode fazer na vida, e que é a qualidade e não a quantidade de tempo que passamos com alguém o que importa. É uma história sobre o poder transformador do amor, da descoberta de aceitação, a descoberta de nós mesmos, e percebendo que o arco-íris está à nossa volta e dentro de nós também. "A Shine Of Rainbows" envia essa mensagem de uma maneira simples e inspiradora.

Num mundo cinza, sempre há luz e cor, basta procurá-la. Vale conferir.Excelente

terça-feira, 5 de abril de 2011

Mais que um armário

O Primeiro Que Disse (Mine Vaganti)

mine_vaganti_ver4_xlg Ano: 2010

Direção: Ferzan Ozpetek

Duração: 110 min.

Gênero: Drama; Romance; Comédia

Elenco: Riccardo Scamarcio (Tommaso Cantone); Nicole Grimaudo (Alba Brunetti); Alessandro Preziosi (Antonio Cantone); Ennio Fantastichini (Vincenzo Cantone); Lunetta Savino (Stefania Cantone); Ilaria Occhini (La nonna - avó); Bianca Nappi (Elena – irmã de Tommaso); Carmine Recano (Marco); Massimiliano Gallo (Salvatore – marido de Elena); Paola Minaccioni (Teresa); Gianluca De Marchi (Davide); Mauro Bonaffini (Massimiliano); Giorgio Marchesi (Nicola); Matteo Taranto (Domenico); Gea Martire (Patrizia); Daniele Pecci (Andrea); Elena Sofia Ricci (Luciana Cantone); Giancarlo Monticelli (Raffaele Brunetti).

Esta não é uma comédia comum. Está envolta em dramas e histórias paralelas mal resolvidas. Mais parece um drama...entrevista_ferzan_mine vaganti

Ela começa com a avó, Ilaria Occhini, lembrando do dia de seu casamento e de sua escolha. Cenas de um flashback cheio de culpas e amor não correspondido. E tem também a história da tia Luciana, uma figura excêntrica e devassa que disfarça seu amante como um assaltante. Da irmã Elena, dona de casa frustrada que é casada com o insignificante Salvatore (o típico cunhado!). A mãe Stefânia, doce e submissa mulher que vive sucumbida aos hábitos e fofocas da classe média. O pai Vicenzo, homem machista, intolerante e preconceituoso, preso aos velhos e tradicionais costumes locais; um déspota, pois tem uma amante. O irmão mais velho, o belo Antonio, que trabalha na fábrica da família e é o braço direito do pai nos negócios. E Alba, filha do sócio, uma jovem independente e sedutora, que vê alegria e liberdade em tudo o que faz.

Mas na verdade essa é a história de Tommaso, um jovem homem frustrado que, como o filho mais novo, dessa tradicional família italiana, espera-se que deva seguir os passos da família na fabricação de massas. À ele e ao seu irmão Antonio, deve ser dado controle da empresa da família.

Mas Tommaso, não tem o menor interesse na fábrica e ele confessa para Antonio que é gay, e que deseja permanecer em Roma e para perseguir seu sonho de escrever. Contudo, assim que Tommaso está prestes a sair do armário durante o jantar, Antonio interrompe e revela seu próprio segredo. O pai se revolta com a situação de seu primogênito e o expulsa de casa. No mesmo instante sofre um infarto e vai para o hospital.

Assim começa a trama intensa, cativante e confusa de Tommaso. Dirigida brilhantemente pelo turco Ferzan Ozpetek, mostra a homofobia e os preconceitos de uma família italiana tradicional.

O Primeiro Que Disse é leve, ensolarado e com uma pitada de drama na medida certa. Mostra, claramente, que o preconceito, como sempre, não leva a nada, somente a perdas e sofrimento. E que, a parte qualquer lição de moral, a vida é para ser vivida, amada e respeitada, independente de qualquer coisa.

Amei a cena da avó devorando os docinhos... Meu coração ficou em mil pedaços de amor-perfeito, mas a felicidade é assim, mesmo que tão tênue.

A cidade em que é retratado o filme, é Lecce (cidade natal do meu sogro). Com um centro histórico fascinante, não tem como não se apaixonar pelos cenários dessa bela cidade do sul da Itália.

Apesar de ter achado o final meio nonsense, é um belo filme e com uma história cativante. Garante um pouco de risos e lágrimas, mas com toda certeza eu recomendo. Vale conferir. Interessante

domingo, 13 de março de 2011

Nada é de graça...

Bravura Indômita (True Grit)

True_Grit_poster11 Ano: 2010

Direção: Joel Coen e Ethan Coen

Duração: 110 min.

Gênero: Faroeste

Elenco: Jeff Bridges (Agente Federal Reuben J. “Rooster” Cogburn); Hailee Steinfeld (Mattie Ross); Matt Damon (Texas Ranger La Boeuf); Josh Brolin (Tom Shaney); Barry Pepper (Ned "Sortudo" Pepper).

"As pessoas não crêem que uma jovem garota possa sair de casa e sair no inverno para vingar o sangue de seu pai, mas aconteceu. Eu tinha apenas 14 anos quando um covarde chamado Tom Chaney, atirou em meu pai. E lhe tirou a vida e o cavalo, e 2 peças de ouro da Califórnia que ele carregava em suas calças. Chaney era um homem contratado e papai tinha levado ele para Forte Smith para ajudá-lo a levar de volta uma série de pôneis mustangs que ele havia comprado. Na cidade, Chaney caiu na farra e nas cartas, e perdeu todo seu dinheiro. Ele pôs na cabeça que tinha sido enganado e voltou para a pensão para pegar seu rifle Henry. Quando papai tentou intervir, Chaney atirou nele. Chaney fugiu. Ele poderia ter montado seu cavalo, que nenhuma alma naquela cidade se importaria em persegui-lo. Sem dúvida Chaney achava que estava livre. Mas ele estava errado. Você deve pagar por tudo nesse mundo, de um jeito ou de outro. Nada é de graça. Exceto a graça de Deus."

Assim começa a história da menina Mattie Ross (Hailee Steinfeld), de apenas 14 anos, que descobre que seu pai foi assassinado e roubado pelo malvado Tom Shaney (Josh Brolin). Em busca de vingança, ela resolve contratar o bebarrão e caolho Agente Federal Reuben J. "Rooster" Cogburn (Jeff Bridges), para ir atrás do bandido. Inicialmente ele recusa a oferta, mas como precisa de dinheiro acaba aceitando. Mattie exige ir junto com Rooster, o que para ele não é uma boa idéia. Para capturar Shaney eles precisam entrar em território indígena e encontrá-lo antes de La Boeuf (Matt Damon), um policial do Texas que está à sua procura devido ao assassinato de um senador.bravura-indomita_003cronicascariocas

Geralmente não gosto de refilmagens, principalmente as feitas de filmes que se tornaram clássicos. Em 1969, John Wayne arrasou com seu “Rooster” e me parecia impossível alguém superá-lo. Doce engano o meu.

Esta refilmagem do clássico Bravura Indômita, baseada no livro de Charles Portis feita pelos irmãos Coen, pode ser considerada um clássico do clássico. Ela é perfeita!

Jeff Bridges está fenomenal como o xerife Reuben J. "Rooster" Cogburn, seu forte sotaque, seus trejeitos de bebarrão e toda a arrogância que seu personagem exala. Ele nasceu para ser “Rooster”. Mais uma vez a parceria irmãos Coen e Jeff Bridges dá certíssimo (O Grande Lebowski - 1998). Assim como dos Coen com o Josh Brolin (Onde os Fracos Não Têm Vez – 2007, e Cada Um Com Seu Cinema - 2007).

Matt Damon está irreconhecível com seu policial texano La Boeuf, e também arrasa na interpretação de mais um personagem totalmente diferente do seu cansativo excesso Bourne.Bravura-Indomita-27 (1)

Mas o melhor do filme é a estreante Hailee Steinfeld, que simplesmente nos seus poucos 14 anos, dá um banho de interpretação e força a uma personagem que se sobressai divinamente bem perante a monstros sagrados de Hollywood. Essa menina tem futuro, e um dos mais brilhantes possíveis. Ao menos ela está no caminho certo.

Uma reclamação: o nome de Hailee não aparece nos cartazes do filme, o que foi um desleixo e uma grande pena, pois tudo gira em função dela, que narra a história e conduz com maestria toda a trama.

Bravura Indômita é um filme excelente e conta com uma fotografia excepcional. Mas mesmo sendo primoroso, não deixa de ter cenas que a gente chaga a se perguntar que lombra foi essa? Como a cena do cara vestido com a capa de lobo... O que era aquilo? Muito Coen para mim...

Amei a voz que Jeff Bridges faz, todo o álcool e toda a sua coragem estão claramente passadas no tom de sua voz.

Um filme sobre bravura, coragem, um filme para macho mas que, com toda docilidade escondida nas entrelinhas, este é um filme que mulherzinhas gostarão, assim como eu gostei. Vale conferir.Excelente

quinta-feira, 10 de março de 2011

Eu quero... Eu preciso... Eu...

Amar... Não Tem Preço (Hors de Prix)

hors_de_prix Ano: 2006

Direção: Pierre Salvadori

Duração: 110 min.

Gênero: Romance; Comédia

Elenco: Audrey Tautou (Irène); Gad Elmaleh (Jean); Marie-Christine Adam (Madeleine); Vernon Dobtcheff (Jacques); Jacques Spiesser (Gilles); Annelise Hesme (Agnès).

A jovem e interesseira Irène (Tautou) está hospedada em um luxuoso hotel com seu amante rico, quando conhece o tímido garçom Jean (Elmaleh), surge uma atração entre os dois. Mas Irène confunde Jean com um ricaço e acha que pode unir o útil ao agradável. A partir daí começa uma sessão de encrencas e confusões, envolvendo identidades trocadas, e o esforço de Jean para manter sua farsa. Será que ele irá conseguir manter seu segredo, e se virar para sustentar os gostos caros da sua amada?

Para quem lembra daquela Audrey toda fofa e meiga de Amélie Poulain, esqueça-a! Audrey Tautou está ácida, arrogante e picaretamente pedante nesta produção divertida do cinema francês. Logo no início do filme você acaba ficando com raiva dela, por causa do jeito vadia que ela representa, mas no decorrer da película um quê da Amélie aparece sutilmente adocicando o personagem. Já o marroquino Gad Elmaleh faz o tipo feioso-sedutor-engraçado que cativa desde o primeiro momento, afinal, ele tem um olhar tão chorão, que dá dó! Com um figurino de encher os olhos de tanta grife (Chanel) e imensos decotes, Hors de Prix é um filme divertido, com uma estória bobinha e previsível, mas muito boa para relaxar. Vale conferir se você gosta de humor francês e é fã de Audrey Tautou.

Interessante

quarta-feira, 9 de março de 2011

Morrer é nascer em um novo mundo

Além da Vida (Hereafter)

alem-da-vida-poster1 Ano: 2010

Direção: Clint Eastwood

Duração: 129 min.

Gênero: Drama

Elenco: Matt Damon (George Lonegan); Cécile de France (Marie LeLay); George McLaren (Marcus); Frankie McLaren (Jason).

"Três pessoas são tocadas pela morte de maneiras diferentes. George (Matt Damon) é um americano que desde pequeno consegue manter contato com a vida fora da matéria, mas considera o seu dom uma maldição e tenta levar uma vida normal. Marie (Cécile De France) é jornalista, francesa, e passou por uma experiência de quase morte durante um tsunami. Em Londres, o menino Marcus (Frankie McLaren/George McLaren) perde alguém muito ligado a ele e parte em busca desesperada por respostas. Enquanto cada um segue sua vida, o caminho deles irá se cruzar, podendo mudar para sempre as suas crenças. "

Engraçado que, sempre que penso no Clint Eastwood me vem à mente Os Imperdoáveis, e associo seu nome aos filmes para machos. Mesmo depois das Pontes de Madison, Clint Eastwood é sinônimo de macho. Por isso foi uma grata surpresa de ver seu nome na direção de um filme voltado ao mundo espiritual.

É sabido que o fim existe e que ele é inevitável, mas não temos certeza do que há do outro lado. Neste filme, fica claro que, como em quase tudo na vida, existem as pessoas sérias e os picaretas que se aproveitam da dor das pessoas para explorá-las. Hereafter é de uma beleza cruel e dolorida, um filme lento, mas instigante. As cenas do tsunami são de uma realidade impressionante, pavorosa! Eu, que tenho medo do mar, me arrepiei toda! Deus me livre! Um horror! E a relação entre os dois irmãos e a mãe drogada é de partir o coração mais duro do mundo. São cenas que mexem com a gente, lá dentro, bem no fundo. Algo incomoda, dói, perturba. Você fica a imaginar como haverá de ter um final feliz para tanta dor e tanta perda. Já não chega Marie quase perder a vida física, e logo ela perde realmente a vida vivida por ela, seu emprego, suas lutas, seu pseudo “amado”? Ou a separação dos irmãos e da mãe? Por que tanta dor? Creio que George está certo ao ver seu dom como uma maldição. Não ia gostar de ter gente ao meu redor, somente para que eu falasse com seus mortos. Não. Isso seria terrível. Ajudar é uma coisa, ser explorado é outra.

O que mais achei interessante neste filme é que a morte vem atrelada ao velho conceito de renovação, de recriação e de mudança. Morrer é nascer em um novo mundo, em uma nova vida, e creio que nós morremos um pouco todos os dias, para renovarmos nossa vida constantemente. Para toda dor, existe um remédio, uma cura, basta procurá-los.

Os garotinhos Frankie e George McLaren dão um show de atuação. Os olhares, a cumplicidade e o sofrimento são tão claros e tão bem passados em seus gestos, que seus personagens nos envolvem em sua triste história. É como se você sentisse a dor deles.

E Matt Damon, depois das porradas dos vários Bournes, está perfeito e convincente como George, o vidente sensível que sofre para ter uma vida normal, enquanto seu irmão só pensa em explorá-lo.

E quanto a Cécile De France, essa linda atriz belga, mas quase francesa (mudou-se para a França aos 17 anos), o que posso dizer é que ela é cativante e divina em seu papel. Seus olhos são tão expressivos que você vê o pânico estampado neles quando ela é atingida pela tsunami, a luta por sua vida, o vazio em sua quase morte... Ela é mais um bom presente que o cinema francês dá ao mundo.

Como eu gosto do tema, sou suspeita para falar, mas Hereafter foi e é um dos melhores filmes ligados ao lado espiritual que vi nos últimos anos. Sensível, triste e envolvente. Nem só de macho Clint Eastwood é feito. Vale conferir. Excelente

terça-feira, 8 de março de 2011

1340 - este é o ano onde tudo começou...

Julieta (Juliaeta)

Julieta Ano: 2010

Autor: Anne Fortier

Editora: Sextante Ficção

Brochura – 23 x 16 cm

1ª Edição – 448 pág.

Julie Jacobs e sua irmã gêmea, Janice, nasceram em Siena, na Itália, mas desde os 3 anos foram criadas nos Estados Unidos por sua tia-avó Rose, que as adotou depois de seus pais morrerem num acidente de carro. Passados mais de 20 anos, a morte de Rose transforma completamente a vida de Julie. Enquanto sua irmã herda a casa da tia, para ela restam apenas uma carta e uma revelação surpreendente - seu verdadeiro nome é Giulietta Tolomei. A carta diz que sua mãe havia descoberto um tesouro familiar, muito antigo e misterioso. Mesmo acreditando que sua busca será infrutífera, Julie parte para Siena. Seus temores se confirmam ao ver que tudo o que sua mãe deixou foram papéis velhos - um caderno com diversos esboços de uma única escultura, uma antiga edição de Romeu e Julieta e o velho diário de um famoso pintor italiano, Maestro Ambrogio. Mas logo ela descobre que a caça ao tesouro está apenas começando..”

Tudo que parece ser, mas não é. Essa é a máxima para esta estória. Um romance, uma aventura, crimes, vilões e mocinhas indefesas (nem tanto assim). Uma mistureba de coisas que deu certo. Julieta é um livro bem “seção da tarde”, gostoso de ler, leve, divertido e romântico. Tem uma história por trás da história, e esta se confunde com a obra de Shakespeare, sendo mais realista e cruel. E é aí que o livro fascina. Imaginar que os famosos amantes de Verona, existiram em Siena e conhecer um pouco mais sobre a história do Palio (a disputa tradicional e não o carro!) é encantador.

Eu, na verdade, nunca fui muito fã de Romeu e Julieta. Desculpe-me os fãs ardorosos de Shakespeare, mas essa de final dolorosamente infeliz, onde um finge que morreu e o outro pensando que seu objeto de amor está morto, se mata e o objeto amado acorda e vê morto seu amor e depois se mata – me poupe - com os dois amantes morrendo e depois de tudo o que eles passaram para ficarem juntos? NÃO!!! Corta essa. Não gosto e nunca gostei. I’m sorry! Se é para sofrer muito, e de morte trapalhada, estou fora. OUT! Mas Anne Fortier nos presenteou com uma nova leitura desta obra que arrasta fãs em todo o mundo (o que não é o meu caso). Neste livro, Romeu e Julieta existiram e morreram, mas não uma morte trapalhada, mas uma morte honrosa e dolorosa, gerada por uma seqüência de fatos que influenciaram o trágico desfecho. E a conseqüência dessas mortes reflete na vida de todos que participaram direta ou indiretamente da história, seja no passado (1340) ou nos dias de hoje.

Posso até está cometendo uma heresia, mas gostei mais dessa versão da Anne Fortier do que da obra original.

Independente do que penso, Romeu e Julieta é um clássico, um marco na história das obras de Shakespeare. E creio que, Anne Fortier, ao criar esta nova visão deste importante romance, prestou uma belíssima homenagem. Vale conferir.Interessante

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