quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Intocáveis – O segundo suspiro

Intocáveis (Intouchables)

intocáveis Ano: 2011

Direção: Olivier Nakache / Eric Toledano

Duração: 112 min.

Gênero: Drama / Comédia.

Elenco: François Cluzet (Philippe); Omar Sy (Driss); Anne Le Ny (Yvonne); Audrey Fleurot ( Magalie); Clotilde Mollet (Marcelle); Alba Gaïa Kraghede Bellugi (Elisa).

“Philippe (François Cluzet) é um aristocrata rico que, após sofrer um grave acidente, fica tetraplégico. Precisando de um assistente, ele decide contratar Driss (Omar Sy), um jovem problemático que não tem a menor experiência em cuidar de pessoas no seu estado. Aos poucos ele aprende a função, apesar das diversas gafes que comete. Philippe, por sua vez, se afeiçoa cada vez mais a Driss por ele não tratá-lo como um pobre coitado. Aos poucos a amizade entre eles se estabelece, com cada um conhecendo melhor o mundo do outro.”

Filme inspirado no livro “O Segundo Suspiro” de Philippe Pozzo Di Borgo.  intouchables-car

Um desbunde. Essa é a melhor palavra para descrever esse filme. Geralmente, filmes baseados em histórias verídicas são tristes, dramáticos e profundos. Não é o caso de “Intocáveis”. A história no filme deveria ser triste e cheia de dramalhões, mas não é. É mais do que isso. É uma risada de alegria, uma gargalhada de deboche. Cada cena, por mais estranho que pareça, é acompanhada por um sorriso. Isso mesmo, um sorriso em pleno drama. Muito se deve a atuação espetacular de Omar Sy, esse ator negro lindo e com um sorriso deslumbrante que cativa o telespectador desde a primeira cena. É uma figuraça!!! E sem falar no cheio de pompa Philippe, interpretado divinamente pelo francês François Cluzet – lembro-me dele no filme John & Janis. 

Daí dá para entender o sucesso desse filme no mundo todo, ainda mais sendo uma produção francesa e não americana. 

Muito já se escreveu sobre esse filme, afinal, ele ficou hiper badalado. Por isso não quero entrar em detalhes. Só digo uma coisa: ASSISTA! Vale cada segundo. Se você estiver triste, se você estiver alegre, independente do estado de espírito, ASSISTA! Ele levanta seu astral de uma maneira incrível. Recomendadíssimo. Diversão garantida, com direito a suspiros, torcidinha e tudo mais.

  Excelente

 

 

O Segundo Suspiro (Le second souffle suivi Du Diable gardien)

SegundoSuspiro Ano: 2012

Autor: Philippe Pozzo di Borgo

Editora: Intrínseca

Brochura – 21 x 14 cm

1ª Edição – 232 pág.

"Philippe Pozzo di Borgo era um executivo de sucesso e herdeiro de duas tradicionais famílias francesas. Porém em 1993 sua vida sofre uma reviravolta dramática quando, após um acidente de parapente, ele fica tetraplégico. Na mesma época, sua mulher, Béatrice, enfrenta uma doença terminal. Em meio à dor, Pozzo di Borgo isola-se em sua luxuosa casa em Paris e passa a ter como acompanhante o argelino Abdel, genioso e desinibido com as mulheres - mas que, por trás de sua fachada temperamental, também sofre da solidão e da sensação de deslocamento. Entre o aristocrata e seu 'diabo guardião', surge uma inesperada camaradagem que transforma suas vidas. Abdel introduz em seu cotidiano a aventura e o imprevisível, e Pozzo di Borgo descobre que, mesmo nas mais adversas das condições, é possível cultivar um intenso apetite pela vida, voltar a amar e ser amado."

Este livro foi escrito em duas partes. A primeira edição francesa estava esgotada e compreendia o período da vida de Philippe até 1998, conhecido como “O segundo suspiro”. Com o lançamento do filme “Intocáveis”, a editora propôs ao autor reeditar o livro com o complemento “O diabo guardião”, que compreende o período de 1998 (quando termina O segundo suspiro) até 2004. Com isso, fica claro que, a primeira parte do livro é a amostra do verdadeiro Philippe, um cara muito egoísta e cheio de problemas e que, mesmo com a mulher sofrendo de um câncer agressivo, ele continuava a olhar mais para o próprio umbigo do que para o mundo ao seu redor. Com o filme, veio à necessidade de abrir mais as informações sobre Abdel e o seu papel junto a Philippe e a Béatrice. Não que ele não fosse importante, bem pelo contrário, ele ensinou e mostrou outro mundo e outra maneira de ver o mundo a Philippe. Mas é justamente aí que eu me frustrei com o livro.

Tudo bem que, para se fazer o filme, foram necessárias diversas adaptações e algumas sutis alterações na história. Mas no livro é como se o Philippe só tivesse acordado para olhar o Abdel com outros olhos após a filmagem do documentário (não do filme) sobre sua vida. Ele só começa a detalhar a relação de amizade entre eles somente em “O diabo guardião”, e contar mais das maluquices do Abdel e da sua própria humanização.Abdel e Philippe

Um detalhe intessante é como surgiu o nome “Intocáveis”, pois vem daquela casta famosa indiana das pessoas impuras. Na sociedade que Philippe vivia, Abdel Sellou – um homem bruto, vindo do norte da África, além de tudo mulçumano – estava na pior das piores situações da escória que vive nos guetos das cidades francesas, ou seja, ele era pra lá de “intocável”, e na situação que Philippe passou a viver após o acidente e a morte de sua esposa, fez ele se sentir também “intocável”, o tipo de pessoa que ninguém queria por perto. Isso, só fica claro no livro, nos pequenos detalhes que Philippe vai abrindo aos poucos, mas de uma forma um tanto quanto confusa.

Em resumo, a história é interessante, mas como em raros casos, o filme é pra lá de grandioso, e eu realmente esperava bem mais do livro. Um bom livro que, por muitas vezes cansativo, por causa das viagens e divagações excessivas do Philippe. Mas não passa disso. Dá para ler numa tarde sem ter nada o que fazer. Fiquei muito frustrada. Lembro de que, quando terminei de ver o filme, saí direto para comprar e devorar o livro, já que o filme era tão fantástico, o livro deveria ser insuperável! Mas não foi. Um bom livro, mas não passa disso. Não espere muito.

 transy_BOM

sábado, 28 de janeiro de 2012

A revolução do cinema nacional: 2 Coelhos

Depois de um longo tempo de ausência, voltei a postar… Aêêêêê!!! Aleluia!!! Mas sem sacanagens, é sério, eu tinha que voltar a postar, deixar de ser tão preguiçosa e escrever sobre coisas interessantes a se ouvir, ler ou ver. Bem, sinto que voltei em grande, para não dizer, enorme estilo, porque meu povo, esse filme que me fez sair do ócio (e olha que o ócio as vezes é saudável) levanta até defunto!!! Bem, vamos ao que interessa…

2 Coelhos 

2 COELHOS Ano: 2012

Direção: Afonso Poyart

Duração: 108 min.

Gênero: Ação; Nacional. 

Elenco: Fernando Alves Pinto (Edgar); Alessandra Negrini (Júlia); Caco Ciocler (Walter); Marat Descartes (Maicom); Thaíde (Velinha); Thogun (Bolinha); Neco Vila Lobos (Henrique); Roberto Marchese (deputado Jader); Robson Nunes (parceiro de Velinha); Norival Risos (pai do Edgar).

Edgar (Fernando Alves Pinto) encontra-se na mesma situação que a maioria dos brasileiros: espremido entre a criminalidade, que age impunemente, e a maioria do poder público, que só age com o auxilio da corrupção.
Cansado de ser vítima desta situação, ele resolve fazer justiça com as próprias mãos e elabora um plano que colocará os criminosos em rota de colisão com políticos gananciosos.
Na medida que o plano de Edgar é executado, descobrimos pouco a pouco suas reais intenções e sua história, marcada por um terrível acidente e um amor que ele jamais esqueceu. 2 Coelhos é um enigmático suspense de ação onde cada minuto vale mais que todo o passado.

Tem dois filmes de ação que amo de paixão:  Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998) e Assassinos Por Natureza (1994). Hoje eu assisti a 2 Coelhos, e tive a nítida impressão de que, pela primeira vez, na história da minha vida, um filme de ação nacional conseguiu me emocionar. Adrenalina na dose certa! Era como seu eu tivesse num filme do Guy Ritchie com o roteiro do Tarantino, mas não, é um filme nacional, e de primeira linha! Esbabaquei!

2 Coelhos – para entendê-lo coloque no liquidificador o Guy Ritchie (para quem não conhece o ex-sr. Madonna – afe!) e mistura ele com o Tarantino, bata até ficar no ponto de ebulição e o resultado dessa mistura se chama AFONSO POYART, gravem esse nome! Essa cara é (se não é ele, tem que virar) o gênio que deu nova vida ao cinema brasileiro. Velocidade, câmeras nervosas, trilha sonora, fotografia, efeitos especiais e põe especiais nisso!!! Tudo lembra o estilo de dois grandes gênios do cinema de ação moderno – Guy Ritchie e Tarantino - mas com uma super dosagem de cinismo e emoção, que fazem a adrenalina subir e atiça a curiosidade de saber onde tudo aquilo vai dar.2coelhos2

Fui seduzida desde o primeiro segundo do filme. Não tem como não alucinar com a velocidade do vai e volta dos fatos. Das imagens e dos desenhos impactantes. Aquele negócio meio vídeo game, meio desenho, meio Hamlet (“ser ou não ser, eis a questão”), mundo nerd, bandidos malvados, políticos corruptos. Fantástico! E tenho certeza que vai ter muito bundão por aí dizendo que o cinema nacional foi corrompido e agora resolveu copiar filmes americanos! Danem-se! Filmaço! Copiar coisa nenhuma. Afonso Poyart investiu no que tem de melhor dos filmes de ação: um fio para uma boa estória, um elenco afinadíssimo com o conceito do filme, uma trilha sonora incrível (parabéns ANDRÉ ABUJAMRA e MÁRCIO NIGRO), ação sem exagero e muita narração! Amo filmes narrados com velocidade. Dá uma sensação meio voyeur, como se você fosse um observador bem de pertinho, dentro da cabeça da pessoa que narra tudo. É um bate-e-volta alucinante, mas muito bom.

O elenco é uma outra história. Nele temos bandidos famosos (Thaíde, Thogun, Marat Descartes, Robson Nunes, entre outros), mocinhos fofos (Caco Ciocler e Fernando Alves Pinto), mocinha gostosa (Alessandra Negrini) – filme brasileiro não pode faltar a “gostosa”. Mas sem sacanagem, a Alessandra Negrini está linda neste filme, e como sempre dá um banho como atriz, ela tem um ar de deboche eterno fascinante! E tem o político corrupto (Roberto Marchese) e o advogado safado (Neco Vila Lobos). Os mocinhos não são tão mocinhos assim - o Caco Ciocler dispensa comentários, pois mais do que já provou ser um excelente ator e um fofo. Mas nesse filme ele está com um visual de foragido do Afeganistão. Não gostei daquela barba! E o Fernando Alves Pinto eu não conhecia, muito prazer! Arrasou! Fernando mais parece uma mistura de Tyler Durden (Clube da Luta) com Johnny Quid (Rock’n’Rolla). Jeito de bobo mas puro ácido! Muito bom! Ahhh! Os bandidos… Eles são tão bons na bandidagem e na maldade que conseguem arrancar risos em cenas de pura hemorragia. Isso é uma sacada genial, pois quebra a violência dessas cenas com a sutileza do riso.

E tudo isso vem embasado numa trilha sonora trabalhada com muita genialmente por André Abujamra e Márcio Nigro. Puro deleite com Lenine (Paciência), Radiohead (Exit Music), Tom Waits (I’m still here), Titãs (Será que é disso que eu necessito), 30 Seconds To Mars (Kings and Queens), Matanza (Imbecil) e, como não poderia faltar uma musiquinha ruim, Avassaladores (Sou foda). Tudo bem! Filme com bandido tem que ter funk. Não é preconceito, mas realidade.

Não falei da história e nem vou falar, pois quem quiser comprovar, levanta a bunda do sofá e vai para o cinema. Meu povo, sabe quanto tempo eu não pisava em um cinema? Séculos! Morro de preguiça de enfrentar aquelas filas, e sair do conforto do meu precioso sofá e da telona da tv. Mas esse filme valeu! E se eu tiver chance, assistirei novamente! É muito bom! Para fãs do gênero de ação, esse filme não deixa nada a desejar a qualquer filme estrangeiro. Valeu cada segundo que eu não consegui despregar o olho da tela. Muito bom! Amei e recomendo. Segue o link da página do filme… http://2coelhosofilme.com.br/#videos

transy_EXCELENTE

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Tolstoi para todos…

Guerra & Paz (War And Peace / Guerre et paix)

Guerra e PazAno: 2007

Direção: Robert Dornhelm

Roteiro: Lorenzo Favella, Enrico Medioli

Duração: 480 min.

Gênero: Drama, romance, guerra.

Categoria: Mini-série (4 episódios)

Elenco: Alexander Beyer (Pierre Bezukhov); Clémence Poésy (Natasha Rostova); Dmitri Isayev (Nikolaj Rostov); Andrea Giordana (Pai – Sr. Rostov); Hannelore Elsner (Mãe – Sra. Rostova); Teresa Gallagher (Sonja); Alessio Boni (Príncipe Andrej Bolkonsky); Malcolm McDowell (Pai - Príncipe Bolkonsky); Valentina Cervi (Princesa Marja Bolkonsky); Benjamin Sadler (Dolokhov); Toni Bertorelli (Vasilii Kuragin); Violante Placido (Helene Kuragin); Ken Duken (Anatole Kuragin); Hary Prinz (Denisov); Brenda Blethyn (Márja Dmitrijewna Achrosímowa).

Encantada, fascinada, deslumbrada, apaixonada, sei lá, um desbunde só!!! E isso é apenas o início da rasgação de seda que posso fazer sobre esta maravilhosa mini-série. Sempre sou tendenciosamente preconceituosa com adaptações das grandes obras literárias – tudo bem que nada supera o livro – mas, esta é uma das mais belas e intensas histórias de Tolstoi, adaptada de uma forma venerável e inesquecível. Grandiosa, para tentar ser mais específica. Para quem nunca leu Tolstoi, com certeza, após assistir a esta mini-série vai ter a curiosidade e a vontade de abrir o livro e devorá-lo. Mas vamos aos detalhes…

A história é famosa e se passa no período de 1805 a 1820, durante a invasão de Napoleão a Rússia. Envolve três famílias, os Rostov, os Bezukhov e os Bolkonsky. Pierre Bezukhov é filho bastardo de um conde e acaba sendo reconhecido por este antes de sua morte. Tem como grande amiga e confidente a jovem Natasha Rostova. Esta por sua vez se apaixona pelo príncipe casado Andrej Bolkonsky, que também é muito amigo de Pierre. A guerra vem e muda radicalmente a vida das três famílias e dos amigos. Sofrimento, coragem, intrigas, paixões avassaladoras, e amizade. O que fica muito claro durante toda a série é a cativante amizade entre Natasha e Pierre. Aconteça o que acontecer, ambos são fiéis para com um e o outro, e apenas amigos. Não quero contar a história aqui, pois perde toda a graça para quem vai assistir, mas não me lembrava mais dos detalhes do livro e de quão bela é esta amizade.

War & Peace - Andrej BolkonskyOutra coisa que me fascinou na série foi a belíssima trilha sonora de Jan A.P. Kaczmarek, embalada por valsas e grandes clássicos eruditos.

A riqueza dos cenários e de todo o figurino, nem se fala, impecável. E o elenco... bem, isso é um caso a parte.

O mais famoso aqui nesta produção certamente é Malcolm McDowell – o eterno Laranja Mecânica – mas com um elenco quase todo formado por atores desconhecidos do grande público (muitos franceses, italianos, alemães, poloneses, russos e ingleses), o que poderia ser uma catástrofe, foi fascinante. Ao invés de ficarmos babando com um monte de gente famosa, vemos atores lindos e excelentes em seus papéis, e que nos dão a certeza da viagem no tempo. O belíssimo príncipe Andrej Bolkonsky é italiano; a encantadora e delicada Natasha é francesa (talvez vocês lembrem dela em Harry Potter no papel da Fleur Delacour); o sensível e gentil Pierre é alemão; sem falar que o ator que faz o Nikolaj Rostov é russo... E por aí vai. Nesta babel européia, aprendemos novos nomes, conhecemos novos atores do circuito europeu e temos a certeza que nem tudo que é fantástico vem de Hollywood.

Somente uma série deste nível para me dar uma boa sacudida e fazer com que eu voltasse a escrever. Foram às 8 horas mais bem gastas na frente da TV. Não cansei, não enjoei e nem quis deixar para ver o restante depois. Vi toda, completinha, de uma vez só! Foi boa parte do domingo, mas valeu cada segundinho. War & Peace 2007

Teve uma cena, em específico, que eu me apaixonei, quando Natasha dança uma valsa com o príncipe Andrej – juro, a sensação é como se você é quem estava bailando lá, uma leveza, você se sente flutuando. Encantador…

Mais que recomendo esta mini-série. Se você gosta de história, de um bom romance, de boa música e de um dos cenários mais lindos do mundo que é a Rússia czarista, vale conferir.

“O sofrimento é irrelevante se for em nome da glória” [Príncipe Andrej Bolkonsky]

Excelente

sábado, 2 de julho de 2011

Cerejeiras em Flor

Cerejeiras em Flor (Kirschblüten / Hanami / Cherry Blossoms)

cartaz-hanami-cerejeiras-em-florAno: 2008

Direção: Doris Dorrie

Duração: 130 min.

Gênero: Drama.

Elenco: Elmar Wepper (Rudi Angermeier); Hannelore Elsner (Trudi Angermeier); Aya Irizuki (Yu); Maximilian Brückner (Karl Angermeier); Nadja Uhl (Franzi); Birgit Minichmayr (Karolin Angermeier); Felix Eitner (Klaus Angermeier); Floriane Daniel (Emma Angermeier); Celine Tanneberger (Celine Angermeier); Robert Döhlert (Robert Angermeier).

É triste pensar, mas a verdade é dolorosa para quem chega a velhice. As pessoas se relacionam, tem filhos, criam estes filhos com todo amor que podem do seu jeito dar, e quando ficam velhas são abandonadas e esquecidas. As vezes é preciso um estranho para dar a pequena atenção ou um simples carinho, seja na maneira de tratar ou falar, para que a vida fique plena e assim poder seguir em paz.

Esta é a base desta história triste e comovente, até um pouco cansativa, mas de uma beleza singela e tocante. Nunca é muito fácil falar sobre relacionamentos familiares com tanta clareza e dureza. E isto você vê nesta película. 01snapshot2008102815543qb3

Trudi é casada com Rudi Angermeier e eles têm três filhos Karl, Karolin e Klaus. Karl é solteiro e mora no Japão; Karolin é lésbica e mora com a namorada em Berlim e Klaus é casado e pai de um casal e também mora em Berlim. Um dia Trudi descobre que seu marido está com uma doença terminal e que lhe resta pouco tempo de vida. Então ela decide que é hora de eles saírem da rotina, aventurar-se e irem visitar os filhos e os netos em Berlim. Rudi é um homem calado, sério e conservador. Ele não sabe de sua doença e não gosta de sair da sua rotina, da pacata vida na pequena aldeia do interior da Baviera. Ao irem para Berlim, Rudi e Trudi se deparam com filhos distantes emocionalmente, com situações embaraçosas e desconfortantes e, mais uma vez, Trudi resolve mudar o roteiro da viagem e seguem para uma praia no Mar Báltico. Como o destino muitas vezes é travesso, Trudi falece tranquilamente durante o sono e Rudi se vê no mundo sozinho e distante de todos, e sem saber que seus dias também estão contados.

Nenhum dos filhos que ficar com o pai. Eles “internamente” o culpam pela morte e pela infelicidade da mãe.

Um aparte: “Sempre quis ir ao Japão com ele. Ver o Monte Fuji, ao menos uma vez. As cerejeiras em flor, com ele. Mesmo porque, não consigo me imaginar, vendo qualquer coisa sem o meu marido. Seria como se realmente não estivesse vendo. Como eu posso continuar a viver sem ele?”. Assim começa o filme e assim era Trudi. Uma mulher cheia de emoções e sentimentos, vivendo para o marido, uma vida simples e rotineira. Ela era contida do seu espírito aventureiro, por isso amava a dança japonesa butô(*) e tudo que se referia ao Japão.

cerejeiras-em-flor-1Ao perder Trudi fisicamente, Rudi se vê mais só do que nunca e decide, corajosamente, ir em busca do maior sonho de seu amor, para assim achar sua paz interior. Ele parte para o Japão, para encontrar o que Trudi sempre buscou. Karl recebe o pai a contragosto, mas meio que o abandona em seu minúsculo apartamento em Tóquio. Rudi, em sua solidão passa a andar e a passear por Tóquio, uma cidade caótica, onde não fala uma palavra sequer em japonês, se perde, dorme na rua, briga com o filho, e finalmente acha a redenção junto a uma jovem dançarina de butô. Com Yu, ele aprende pequenas coisas, como se relacionar, falar sobre seu amor por Trudi e expressá-lo não só através das roupas, mas também do butô (dança da sombra – como Yu explica no filme). Com isso Rudi passa a ver o mundo de outra forma, com os olhos, os sentimentos e o espírito de Trudi.butô

Para mim, um dos mais tocantes filmes que vi nos últimos tempos. Relacionamentos familiares nunca são fáceis. E somente quem sente e vive isso intensamente sabe que amar também é abdicar, que amar é uma via de mão dupla, mesmo que pareça ser de mão única. Muitas vezes deixamos de fazer coisas que gostávamos pelo mais puro prazer de estar junto de quem amamos. Não é difícil. É só saber dizer sim ou não no momento certo, sem nunca deixar que isso nos fira. Por que se o amor passar a ser doloroso, já não vale a pena.

Os filhos de Trudi sempre acusaram o pai de haver podado a mãe, mas eles nunca entenderam que a escolha foi dela, e ela era feliz com isso. Cada um sabe onde aperta o seu sapato. A vida é assim. Vale conferir. Eu amei.Excelente

(*) ““Bu” significa dança, e “toh”, passo. Butô combina dança e teatro, em espetáculos centrados em temas como o nascimento, a sexualidade, o inconsciente, a morte, o grotesco. O corpo é esvaziado de referências culturais e se entrega a todo tipo de metamorfose”. (trecho do blog do Valdeci – vale conferir  - http://maisde140caracteres.wordpress.com/2010/08/12/hanami-cerejeiras-em-flor/).

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Homenagem aos mortos…

A Partida (Okuribito / Departures)

A PARTIDAAno: 2009

Direção: Yojiro Takita

Duração: 130 min.

Gênero: Drama.

Elenco: Masahiro Motoki (Daigo Kobayashi); Ryoko Hirosue (Mika Kobayashi); Kazuko Yoshiyuki (Tsuyako Yamashita); Tsutomu Yamazaki (Shōei Sasaki); Kimiko Yo (Yuriko Uemura); Takashi Sasano (Shōkichi Hirata); Tetta Sugimoto (Yamashita); Toru Minegishi (Toshiki Kobayashi); Tarō Ishida (Mr. Sonezaki).

“A Partida” mexeu com minha alma e me fez, conseqüentemente, parar para pensar na hora da partida. O respeito por quem parte, o amor e a delicadeza de todo o ritual, isso tudo me deixou com uma inveja danada, pois nós ocidentais não temos essas tradições com tantos detalhes e respeito.

A fotografia é maravilhosa. Pause o filme em qualquer cena e veja lá uma linda imagem. A música nem se fala... Tudo casa com a perfeição. É como uma tela de pintura mostrando toda a sua grandiosidade. Como um bom poema sendo representado na sua frente.

Tirando os clássicos de Akiro Kurosawa, nunca fui muito fã do cinema japonês, mas neste caso, fui conquistada e seduzida por esta obra tão cativante e sedutora.2009_departures_001

A história é bem simples... Daigo Kobayashi é um jovem casado que toca violoncelo em uma orquestra sinfônica em Tóquio. Mas, ela é dissolvida e ele fica sem trabalho. Por isso decide voltar a morar na sua cidade natal. Logo arruma um emprego como “noukan”, um tipo de personal style de defuntos. É uma profissão que não é bem vista por sua mulher e nem por seus conhecidos, até o momento em que precisam usar de seus serviços.

Na verdade, as profissões de “dono de funerária”, “embalsamador”, “coveiros” e afins nunca são bem vistas. As sociedades tendem a discriminar profissões ligadas à morte, seja desde o legista ao coveiro. Isso é natural, pois a morte teoricamente assusta, enfeia e junto a ela normalmente vem sofrimento. No caso deste filme vemos uma face diferente. Onde a morte é uma partida para uma viagem (sem volta), mas se vamos partir, partiremos com dignidade, com beleza e um certo requinte. A maneira de tratar o cadáver com tanto respeito é simplesmente encantadora. Tem todo um ritual, uma delicadeza e uma profunda deferência para com o morto. As pessoas só passam a dar valor a este trabalho e a reconhecerem o quanto ele é importante e imprescindível quando se veem necessitando de seus serviços. [SPOILER] Tem uma cena que marcou muito esta visão: eles chegam atrasados na casa de um cliente, e o marido da morta está indócil, grosseiro. Após todo o ritual, você nota que não há mais lágrimas nos olhos dos familiares e sim carinho aliado ao respeito. Um sentimento de honra fica claro nessa hora.a-partida-3 E a senhora que estava morta fica não com a aparência de um cadáver, mas de quem está serenamente dormindo no momento de sua partida. Aí sim, o marido vem e agradece os feitos por sua família e sua mulher. E exatamente neste instante fica claro o valor desta profissão.

Tem uma série de fatores envolvidos nos detalhes do filme... A lembrança dolorosa do pai que foi embora, o estudo contínuo do violoncelo, a “carta de pedra”, a relação marido X mulher X trabalho, o orgulho, o perdão...

Um filme lindo, perfeito, como há muito eu não via. Emocionante. Vale mais do que conferir. Vale ter, ver, assistir e rever sempre que puder para não esquecer o quanto coisas que parecem tão pequenas e insignificantes são importantes em nossa vida.

Mais detalhes sobre este filme no blog http://1filme.net/a-partida-2008.Excelente

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