Cerejeiras em Flor (Kirschblüten / Hanami / Cherry Blossoms)
Direção: Doris Dorrie
Duração: 130 min.
Gênero: Drama.
Elenco: Elmar Wepper (Rudi Angermeier); Hannelore Elsner (Trudi Angermeier); Aya Irizuki (Yu); Maximilian Brückner (Karl Angermeier); Nadja Uhl (Franzi); Birgit Minichmayr (Karolin Angermeier); Felix Eitner (Klaus Angermeier); Floriane Daniel (Emma Angermeier); Celine Tanneberger (Celine Angermeier); Robert Döhlert (Robert Angermeier).
É triste pensar, mas a verdade é dolorosa para quem chega a velhice. As pessoas se relacionam, tem filhos, criam estes filhos com todo amor que podem do seu jeito dar, e quando ficam velhas são abandonadas e esquecidas. As vezes é preciso um estranho para dar a pequena atenção ou um simples carinho, seja na maneira de tratar ou falar, para que a vida fique plena e assim poder seguir em paz.
Esta é a base desta história triste e comovente, até um pouco cansativa, mas de uma beleza singela e tocante. Nunca é muito fácil falar sobre relacionamentos familiares com tanta clareza e dureza. E isto você vê nesta película.
Trudi é casada com Rudi Angermeier e eles têm três filhos Karl, Karolin e Klaus. Karl é solteiro e mora no Japão; Karolin é lésbica e mora com a namorada em Berlim e Klaus é casado e pai de um casal e também mora em Berlim. Um dia Trudi descobre que seu marido está com uma doença terminal e que lhe resta pouco tempo de vida. Então ela decide que é hora de eles saírem da rotina, aventurar-se e irem visitar os filhos e os netos em Berlim. Rudi é um homem calado, sério e conservador. Ele não sabe de sua doença e não gosta de sair da sua rotina, da pacata vida na pequena aldeia do interior da Baviera. Ao irem para Berlim, Rudi e Trudi se deparam com filhos distantes emocionalmente, com situações embaraçosas e desconfortantes e, mais uma vez, Trudi resolve mudar o roteiro da viagem e seguem para uma praia no Mar Báltico. Como o destino muitas vezes é travesso, Trudi falece tranquilamente durante o sono e Rudi se vê no mundo sozinho e distante de todos, e sem saber que seus dias também estão contados.
Nenhum dos filhos que ficar com o pai. Eles “internamente” o culpam pela morte e pela infelicidade da mãe.
Um aparte: “Sempre quis ir ao Japão com ele. Ver o Monte Fuji, ao menos uma vez. As cerejeiras em flor, com ele. Mesmo porque, não consigo me imaginar, vendo qualquer coisa sem o meu marido. Seria como se realmente não estivesse vendo. Como eu posso continuar a viver sem ele?”. Assim começa o filme e assim era Trudi. Uma mulher cheia de emoções e sentimentos, vivendo para o marido, uma vida simples e rotineira. Ela era contida do seu espírito aventureiro, por isso amava a dança japonesa butô(*) e tudo que se referia ao Japão.
Ao perder Trudi fisicamente, Rudi se vê mais só do que nunca e decide, corajosamente, ir em busca do maior sonho de seu amor, para assim achar sua paz interior. Ele parte para o Japão, para encontrar o que Trudi sempre buscou. Karl recebe o pai a contragosto, mas meio que o abandona em seu minúsculo apartamento em Tóquio. Rudi, em sua solidão passa a andar e a passear por Tóquio, uma cidade caótica, onde não fala uma palavra sequer em japonês, se perde, dorme na rua, briga com o filho, e finalmente acha a redenção junto a uma jovem dançarina de butô. Com Yu, ele aprende pequenas coisas, como se relacionar, falar sobre seu amor por Trudi e expressá-lo não só através das roupas, mas também do butô (dança da sombra – como Yu explica no filme). Com isso Rudi passa a ver o mundo de outra forma, com os olhos, os sentimentos e o espírito de Trudi.
Para mim, um dos mais tocantes filmes que vi nos últimos tempos. Relacionamentos familiares nunca são fáceis. E somente quem sente e vive isso intensamente sabe que amar também é abdicar, que amar é uma via de mão dupla, mesmo que pareça ser de mão única. Muitas vezes deixamos de fazer coisas que gostávamos pelo mais puro prazer de estar junto de quem amamos. Não é difícil. É só saber dizer sim ou não no momento certo, sem nunca deixar que isso nos fira. Por que se o amor passar a ser doloroso, já não vale a pena.
Os filhos de Trudi sempre acusaram o pai de haver podado a mãe, mas eles nunca entenderam que a escolha foi dela, e ela era feliz com isso. Cada um sabe onde aperta o seu sapato. A vida é assim. Vale conferir. Eu amei.
(*) ““Bu” significa dança, e “toh”, passo. Butô combina dança e teatro, em espetáculos centrados em temas como o nascimento, a sexualidade, o inconsciente, a morte, o grotesco. O corpo é esvaziado de referências culturais e se entrega a todo tipo de metamorfose”. (trecho do blog do Valdeci – vale conferir - http://maisde140caracteres.wordpress.com/2010/08/12/hanami-cerejeiras-em-flor/).